A cada mês, a Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Silvicultura de Rio Claro recebe 300 pedidos de plantio de árvores em calçadas de residências. O titular da pasta, Carlos Alberto Teixeira De Lucca diz que esta demanda deverá aumentar e que a secretaria está se estruturando para ampliar o atendimento.
Quem se candidata a uma muda basta fazer o pedido no Atende Fácil, que encaminha a solicitação para a secretaria. É feita, então, uma visita técnica à residência do solicitante, para avaliar se o local é apropriado, se o plantio não irá interferir na rede elétrica, nos encanamentos e na mobilidade dos pedestres.
Quando aprovada a solicitação, em 50% dos casos o plantio é feito pelo próprio requerente. A outra metade dos plantios é feita pela equipe da prefeitura, que cede a muda e a quantidade necessária de adubo. “Quando o próprio requerente se dispõe a fazer o plantio, o processo é mais rápido, pois não fica dependente do agendamento e da programação que temos de adotar com as nossas equipes”, explica De Lucca.
São mudas de 1,50 m a 4,00 metros de altura, de porte adequado para estes locais quando adultas. As espécies disponíveis – manacá da serra, resedá, oiti, jacarandá caroba, escumilha, quaresmeira rosa e roxa – não causam danos ao calçamento, garantem áreas de sombra, belas florações e, principalmente, ainda contribuem muito para minimizar o efeito das temperaturas quentes do verão brasileiro.
Estudo proposto pela Organização das Nações Unidas, no ano 2000, intitulado Avaliação Sistemática do Milênio, com a participação de 1360 pesquisadores de 95 países, inclusive o Brasil, demonstrou os efeitos da degradação ambiental em todos os continentes ao longo de décadas e séculos. Também considerou as formas possíveis das Nações e seus governos reverterem, ou, pelo menos, adotarem soluções e programas que poderiam reduzir o impacto futuro desta degradação.
Um estudo específico, que focalizou a região metropolitana de São Paulo, trouxe informações sobre o efeito da arborização no clima. Uma dessas informações interessantes mostra que a sensação de conforto térmico para uma pessoa que está protegida sob a sombra de uma árvore, ou mesmo para quem está a 10 ou 50 metros dela, não pode ser desprezada. A contribuição de uma só arvore em mitigar o calor é, então, valiosa. A equação é simples: mais árvores é igual a temperaturas mais agradáveis se estamos falando do verão brasileiro, e deste, em especial, que assola Rio Claro e região nas últimas semanas.
Em 2011, o trabalho Análise Microclimática Comparativa entre a Floresta Estadual “Edmundo Navarro de Andrade” e a Área Urbana do Município de Rio Claro forneceu boas referências sobre a relação arborização-clima. A pesquisa foi assinada por Gustavo Armani, do Instituto Geológico; Rodrigo S.B. Magalhães, da Fundap-UFSCar-Feena; Sérgio Ricardo Christofoletti, do Instituto Florestal-Feena; e José Luiz Timoni e Ana Luiza Rovielo, ambos da Prefeitura de Rio Claro-Secretaria de Planejamento, Desenvolvimento e Meio Ambiente.
No estudo, eles destacam a qualidade ambiental com ênfase no aumento da temperatura e redução da umidade relativa do ar, relacionando-as à reduzida presença da vegetação na área urbana. E os dados levantados neste trabalho científico demonstraram que a floresta, como se imagina, registra temperaturas mais amenas que as observadas na cidade, concluindo que, em média, estas ficam aproximadamente dois graus centígrados abaixo daquelas registradas no espaço urbano. Além disso, comprovou-se que a umidade relativa do ar dentro da reserva florestal é, em média, 10% mais elevada, situando-se em 62,93% contra o índice de 52,12% verificado na cidade. O estudo constata, ainda, que a cidade se aquece mais rapidamente que a floresta com a absorção dos raios solares, pela manhã, e, da mesma forma, demora mais que a floresta para se resfriar após o por do Sol.
Ter árvores em frente à residência ou, pelo menos, tê-las no quintal da casa parece ser a opção natural para um clima como o nosso, em que as temperaturas ao longo de quase todo o ano tendem a ser altas. “Ocorre que não são poucos os que preferem um quintal inteiramente coberto por concreto ou pisos e também dispensam árvores em frente suas casas, nas calçadas”, atesta o secretário De Lucca. Muitos optam por um paisagismo, em que árvores frondosas são substituídas por espécies de palmeiras, que não geram sombra. “Entre a beleza, a sombra e a praticidade, a escolha recai sobre o que é prático”, lamenta De Lucca.
Sombra decorrente da arborização, é, no entanto, um aspecto destacado na política habitacional desenvolvida pela prefeitura de Rio Claro a partir de 2009. Todos os conjuntos residenciais entregues até agora, com quase 700 unidades, entre casas e apartamentos, têm este compromisso inscrito nos projetos que lhes deram origem, resultantes da parceria município-governo federal.
As áreas internas não construídas destes conjuntos de apartamentos são entregues aos mutuários já com árvores plantadas, que em poucos anos estarão gerando sombra para esses moradores. Esse comprometimento com o meio ambiente prospera também nos conjuntos habitacionais compostos de casas, nos quais a prefeitura se encarregará de fazer o plantio de centenas de árvores, confirma a secretária municipal de Habitação, Maria José Stivalli.
A literatura especializada registra que ao contrário dos países europeus e da América do Norte que, para aproveitar ao máximo os raios solares e fazer frente ao inverno rigoroso necessitam de praças e espaços públicos com um mínimo de arborização, o clima brasileiro pede exatamente o contrário: praças arborizadas, com grandes áreas de sombra, “como verificamos no Jardim Público, na Praça da Liberdade e na praça da Via da Saudade, em frente à Igreja do Bom Jesus”, exemplifica o secretário de Agricultura.