Livre, leve e solta, a pipa ganha altura. Com o sorriso estampado no rosto a criança equilibra a lata e libera a linha aos pinotes, aproveitando a direção do vento. A brisa matinal embaraça seus cabelos, mas a criança nem percebe. O que vale são os ricos momentos de conquista, o misto de alegria e liberdade que invade o coração enquanto a linha flui entre seus dedos e coloca a pipa bailando sob um cenário de céu azul.
Weglas Aylon (12), Walace Manoel (11), Mateus (12) Sandyelle e Tália Ketlen (11) e tantas outras crianças que freqüentam o Centro Municipal de Convivência (CMC) Residencial das Flores, exercem plenamente o direito à liberdade, empinando pipas em terreno baldio, sem fios ao redor, sem linha de cerol, conquistando a alegria e a paz, em completa harmonia com a natureza.
“É uma forma de liberdade responsável, que não fere, não mata, não cerceia a liberdade de outras crianças ao cortar o fio de suas pipas”, diz Simonia Barbosa Teles, coordenadora do CMC.
Weglas diz que não acha correto usar linha com cerol porque, além de tirar a liberdade de outros, pode ocasionar acidentes: “Bom mesmo é soltar pipa de forma consciente, traz diversão e alegria para todos”.
Com o sorriso no rosto, Mateus diz que é invadido por um sentimento muito grande de liberdade quando empina sua pipa: “É uma ótima diversão, mas fico muito bravo quando alguém corta a linha de minha pipa usando linha de cerol. A brincadeira termina e muitas vezes acaba com a vida de outras pessoas”.
Sandyelle e Talia empinaram pipa pela primeira vez durante o Festival de Pipas organizado pelo CMC. “Acho um crime usar linha cortante, pois podem cortar o pescoço de outras pessoas que conduzem bicicletas ou motos. Deixando de lado a linha com cerol, só temos alegrias”, diz Tália. Já a garota Sandyelle afirma que aprender a fazer pipa e empina-la de forma consciente só lhe fez bem: “Fiz e empinei pipa este ano pela primeira vez, o que me deixou muito feliz”.
O Festival de Pipas realizado pelo CMC Residencial das Flores incluiu a confecção de pipas e a conscientização dos participantes em relação ao uso do cerol na linha, que põe em risco a liberdade e a segurança do próximo. Fez parte de um cronograma de atividades diversas realizadas durante o decorrer de agosto, o mês do folclore, com a finalidade de resgatar a cultura folclórica brasileira, por meio do resgate de brinquedos e brincadeiras antigas (cantigas, parlendas e músicas).
Dentro deste mesmo cronograma os alunos participaram de outras diversas atividades, dentre elas:
· Construção de brinquedos artesanais (petecas, cataventos, etc);
· confecção de pequenas esculturas em argila ou material reciclado, representando personagens do folclore (sereia, saci, bumba-meu-boi, boto cor de rosa, etc.);
· desfile e concurso de personagens do Sítio do Pica Pau Amarelo (Emília, Narizinho, Saci, Dona Benta, Anastácia, etc);
· concurso de pipas;
· aprendizagem de pratos típicos do Brasil (cuscuz, bolo de fubá, chá, etc.).
Ingrid Larissa (12) foi uma das alunas mais aplicadas de pratos típicos: “Achei tudo muito bom, aprendi a fazer comidas diferentes que poderei fazer em casa para minha família”, completa.
Vinculado à Secretaria Municipal de Ação Social, o CMC Residencial das Flores é um espaço destinado ao atendimento a crianças e adolescentes, em contra turno ao horário escolar, com enfoque sócioeducativo. Situa-se à Rua 9, n 737, no bairro Jardim das Flores e atende 80 crianças de 6 a 12 anos, alternadas em dois períodos.