Trabalho da prefeitura de Rio Claro prevê o resgate da autoestima e dignidade de vida dos moradores de rua
Joaquim José de Souza Filho, 48 anos, analfabeto, tem uma história de vida similar a de dezenas de moradores de rua. Aos 12 anos, residente no município de Jânio Quadros (BA), colocou a mochila às costas e migrou para o estado de São Paulo. Residiu em Jundiaí e em Catanduva, onde constituiu família. Com o fim da união, há 15 anos, deixou esposa, duas filhas e uma neta. Passou a viver na rua.
“Mesmo na rua, nunca deixei de trabalhar, sempre arrumei serviço como servente de pedreiro e, quando não tinha trabalho, vivia de material reciclável que recolhia pela cidade”, relata. “Mas eu nunca mais tive moradia fixa”, lamenta.
Joaquim veio para Rio Claro há um ano, com promessa de emprego. Após desencontro com quem lhe daria o trabalho, passou a viver nas ruas da cidade. Alguns meses depois, passou a morar em uma garagem abandonada, onde foi encontrado pela equipe do Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua, vinculada ao Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas). E a vida está mudando para Joaquim, que começa a colher os frutos de sua batalha por uma vida mais digna e justa, a começar pelo emprego, que agora é uma realidade.
Embora ainda não tenha residência regular, Joaquim diz que já pode ver uma luz no fim do túnel. “Desde março estou recebendo ajuda da equipe do Creas”, confirma. “O pessoal faz visitas em meu trabalho e me orienta com psicóloga, assistente social e outros profissionais”, enumera. “Estou muito feliz com o acolhimento e atendimento da equipe, sempre atenciosa e respeitosa”, comemora.
Joaquim revela que, graças às orientações do Creas, conseguiu emprego como auxiliar de pintor, já tem documentos de identidade e ganha uma cesta básica que garante o jantar diário. “Já o almoço eu faço no serviço”, explica o baiano, que está entusiasmando em ir mais longe. “Meu grande sonho é trabalhar com carteira assinada e ter um lugar melhor para morar”, revela. “Meu patrão também está me ajudando nisso”.
Segundo Viviane Geraldo, assistente social coordenadora da Proteção Social Especial da Secretaria Municipal de Ação Social, o empenho de Joaquim é vital para que o atendimento do Creas esteja sendo bem-sucedido. “Ele é muito educado e receptivo, não usa álcool ou drogas e tem boas chances, pela sua força de vontade, de conquistar uma vida mais digna”, comenta. “Ele continuará sendo atendido pelo Creas até ter condições de seguir sua vida sem a nossa orientação”.
Atendimento
A secretária municipal de Ação Social, Luci Helena Wendel Ferreira, explica que muitas são as causas que levam à desestrutura familiar. Em muitos casos, pessoas abandonam lares em busca de uma suposta liberdade e passam a viver precariamente sob pontes, casas abandonadas ou rudimentares barracos em terrenos alheios, o que gera em muitas ocasiões atritos com a comunidade.
“Simplesmente retirar essas pessoas das ruas, como se estivéssemos fazendo uma faxina na cidade, não resolve o problema e fere o direito de ir e vir do ser humano”, diz a secretária de Ação Social.
Com base nesse princípio, a Secretaria de Ação Social estruturou em maio de 2010, por intermédio do Creas, uma equipe de Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua, formada por assistente social, psicóloga e quatro técnicos em Desenvolvimento Social. Em quatro meses, a equipe já realizou 84 aproximações sociais com moradores de rua.
“As aproximações sociais visam, entre outros objetivos, pavimentar o processo de retirada dessas pessoas das ruas e dar condições de acesso à rede de serviços e benefícios assistenciais”, explica Luci Ferreira.
Outros objetivos da equipe são identificar famílias e indivíduos com direitos violados; sensibilizar a comunidade para os direitos e necessidades dos moradores de rua; e promover inclusão social e estabelecer parcerias, além de promover ações para reinserção familiar e comunitária.
Existe um amplo trabalho dos profissionais para viabilizar acolhida na rede socioassistencial. A idéia é contribuir para a construção de novos projetos de vida, respeitando as escolhas dos usuários e singularidades de cada situação. A equipe está organizada para atender de forma digna e humanizada sempre preservando a identidade, integridade e história de vida dos atendidos.
Nas ruas
A equipe de Serviço Especializado percorre as ruas da cidade diariamente das 6 às 17 horas. Após a aproximação social, estabelece vínculo com o morador de rua. A partir daí, os procedimentos variam de caso a caso. Pode ser feito encaminhamento para consultas médicas ou internação, ou um trabalho de reinserção familiar. Alguns são encaminhados para tentar emprego, para outros são retirados documentos e ainda podem ser feitos atendimentos emergenciais – banho, alimentação, entrega de cobertores, roupas e calçados.
O trabalho também inclui articulação de uma rede de apoio para o atendimento e o mapeamento de demandas, identificando os locais que os moradores de rua utilizam como espaço de moradia ou de sobrevivência. A equipe também realiza serviço de busca ativa e qualificada para pessoas em situação de rua; atendimento de demanda espontânea e de denúncias; e tenta resolver necessidades imediatas desse público, encaminhando os atendidos para a rede sócio-assistencial do município.
Mais informações podem ser obtidas pelos 3523-6439 e 3523-6520.