A comunicação direta, sem rodeios, contida num palavreado simples, típico daquele interiorzão que olha com séria preocupação os excessos tecnológicos, mas vê nisso apenas um convite para encontrar tranqüilidade e conforto nas origens, nas raízes, é prerrogativa de poucos. Aos 69 anos, Guilherme Goia, se inclui nessa brava gente brasileira, descendente de imigrantes, que construiu – cada povo contribuindo com seus próprios traços culturais – a identidade genuinamente cabocla desta enorme e multifacetada Nação.
Atualmente, Guilherme está entusiasmado com a nova ponte que a prefeitura, em parceria com a iniciativa privada, construiu sobre o córrego Lavapés, logo na entrada da Floresta Estadual. Ele disse isso ao prefeito Du Altimari, dias desses, registrando a aprovação de quem tem o privilégio de viver no entorno daquela bela reserva florestal. “Ficamos contentes, fizeram um bom trabalho, é uma construção forte, bonita”, avalia o antigo morador.
Um pouco mais adiante, as águas do Ribeirão Claro, que está para as velhas gerações como o celular está para os jovens, também recuperam a qualidade de antigamente,quando as bolinhas de gude, a bola de meia e os banhos de rio faziam a diversão das nossas crianças. E lá está o bem disposto Guilherme, dando nacos de pão aos peixinhos que se multiplicam naquelas águas agora livres dos esgotos, graças a um trabalho de recuperação daquele curso d’água de tantos simbolismos para a população da cidade.
“Moro quase dentro do horto”, conta Guilherme, ao informar o endereço de sua casa, na Vila Paulista, onde reside há 20 anos com a esposa Luzia. Essa proximidade com a natureza exuberante da Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade faz deste aposentado, ex-queimador de fornos nas olarias, um homem que cultiva vínculos fortes com a mata, pássaros, fontes e riachos.
Apaixonado pela paisagem que sua visão descortina da porta de casa, Guilherme acompanha cada nova ação que a prefeitura desenvolve na Floresta Estadual, desde meados de 2009 ano passado, quando município e governo estadual assinaram um convênio para gerir em conjunto aquela reserva.
“Todos os dias caminho pela floresta, faz um bem danado”, explica. Nesta quarta-feira, 20, contudo, ele não cumpriu a rotina que tanto o agrada. “Peguei uma gripe forte, achei melhor não arriscar”, disse. “Amanhã, se Deus quiser, vou pegar a estrada outra vez”, garante.
D. Luzia, quando pode, também se arrisca a caminhar com o marido. Os dois sabem perfeitamente o quanto este exercício físico é saudável. E compartilham também a opinião de que andar e ter a natureza ao redor tonifica os músculos, facilita a circulação sanguínea, proporciona bem estar. As trilhas e paisagens da Floresta Estadual, enfim, são velhas conhecidas do casal desde há muito anos.
Enquanto aguarda que suas vias respiratórias fiquem desimpedidas, Guilherme dedica atenção ao valente Pitibul, nome de um cãozinho de “um palmo de altura”, que foi encontrado no Horto, segundo o próprio dono, e a outro companheiro canino que está com a família Goia há mais tempo. Sim, seu Guilherme também respeita e gosta de animais. E é um privilegiado vizinho da Floresta Estadual de tantas e boas memórias. Que o diga “Seo” Guilherme, um homem simples que está conectado aos elementos da natureza.